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quarta-feira, outubro 04, 2006

"A Nossa Terra" - Portugueses na América

A Cova Gala é a maior "aldeia" do mundo.
Senão vejamos, tem 2 rios, tem mar, tem uma ilha e ainda tem uma colonia nos Estados Unidos.
Da autoria de João Ferreira, jornalista do Standard Times, sendo parte integrante do livro "A nossa Vida", que relata a experiencia de Portugueses nos Estados Unidos, apresenta-se aqui algumas pequenas passagens de uma reportagem efectuada no porto de pesca de New Bedford.
Aqui, pessoas da Cova Gala, emigrantes nos Estados Unidos, partilham as razões que os levaram até à terra do Tio Sam.
A tradução é de Ricardo Manata, efectuada entre o jornal da noite e os programas seguintes na Dois, único canal aberto que não está lotado de novelas e concursos, tendo sido um trabalho que deu um particular gozo, dado as pessoas entrevistadas envolvidas e o conhecimento das situações descritas.
É longo, mas vale a pena ler!


Para o Mar, dentro de barcos…

Os experientes pescadores portugueses, perseguindo os seus sonhos, ajudaram a fazer do porto de New Bedford o que ele é hoje, um líder mundial.
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“O porto de New Bedford não seria o que é sem os portugueses”, disse Pedro Cura, dono do arrastão Fisherman.
“Aqui, 65% da pescaria está nas mãos dos portugueses e descendentes de portugueses”, disse ele como matéria de facto, num tom de orgulho.
O Fisherman, como muitos barcos da frota, tem tripulação portuguesa, que falam só português e comem só comida portuguesa.
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Primeiro os portugueses perseguiram as baleias até aqui, quando o último dos pais fundadores, James Monroe, foi presidente nos anos de 1820’s. As correntes atlânticas empurraram a frota baleeira para os Açores, onde a população das ilhas faziam a vida reabastecendo os barcos ou subindo a bordo para ir para o mar.
Quase dois séculos depois, Pedro Cura faz parte da última grande emigração de Portugal e dos Açores, para New Bedford. Ele está no grupo de emigrantes que deixou Portugal nos anos 70, veio para New Bedford, comprou barcos e alimentou a indústria da pesca, então em expansão. A aprovação do Acto de Magnuson de 1976, que alargou as águas territoriais americanas das 12 para as 200 milhas náuticas, para acabar com a pesca excessiva de barcos estrangeiros, cimentou essa expansão.
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“Nós revitalizamos o porto de New Bedford”, disse Pedro Cura, “Começamos todos a evoluir. Houve uma época nos anos 80 em que toda a gente estava a comprar um ou dois barcos”
Famílias recém chegadas e amigos, juntavam-se para guardar tanto dinheiro quanto conseguissem em trabalhos duros, desde usarem as suas capacidades de pesca a bordo dos barcos de outros até trabalharem nas poucas fabricas de têxteis que restavam, para poderem comprar os seus próprios barcos.
“Os açorianos investiram em barcos de Escalopes, um duro e perigoso trabalho. Os pescadores do continente investiram em arrastões, onde tinham mais experiência”, disse Pedro Cura.
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Os novos donos telefonavam para casa, para as suas aldeias nos Açores e em Portugal Continental para comporem as suas tripulações, sabendo que pescadores experientes estavam desejosos e à espera de atravessar o Atlântico pela promessa do sonho americano.
Os pescadores portugueses são treinados do mesmo modo que a América treina os electricistas, têm de obter certificados de habilitação antes de terem a profissão. São-lhes passados um passaporte de pescador e a sua progressão de carreira é regulamentada.
Hermínio Marçalo, de 64 anos, pescador reformado treinado em Portugal, veio para a América e voltou em 1981 após 12 anos, incapacitado por uma lesão num pé.
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“Para ser pescador em Portugal, tive que ir para a escola de pesca”, disse o Sr. Marçalo. “Não podes ser pescador lá sem um exame físico anual. Muitos dos pescadores aqui não precisam qualquer tipo de treino. Eu diria que 90% dos que aqui trabalham como pescadores, trabalhavam em Portugal como pescadores. Todas estas pessoas vieram com experiência.”
“Muitas pessoas vivem da indústria da pesca, e não são só os pescadores”, disse ele, “são os fornecedores de combustível, a indústria de processamento de peixe, são todos”.
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O Sr. Cura que chegou em 1975, serve de exemplo da experiência portuguesa, na frota de New Bedford.
Após apenas 3 anos nos Estados Unidos, ele era co-proprietário do arrastão São Paulo.
“Eu era loucamente ambicioso”, disse o Sr. Cura, que vem de uma família de pescadores da Cova Gala, na zona centro da costa Portuguesa. “Quem for ambicioso em Portugal, tem de abandonar o país. Alguém que queira ter uma vida estável, que queira apenas ter uma vida calma, deve ficar em Portugal”.
Apenas há dois anos, Pedro Cura convenceu João Rico, um experiente Imediato na Cova Gala, para se juntar à sua tripulação no Fisherman.
O Sr. Rico, com 38 anos, casado e pai de 2 crianças, quando o convite veio, achou que valia a pena o risco. No entanto, ele acha que deverá ser o último pescado a deixar a Cova Gala para New Bedford.
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“Já tinha a minha vida organizada lá, mas lá tinha que esticar o meu dinheiro” disse João Rico, “Não me arrependo de me ter mudado para cá. Acho que foi a melhor decisão que alguma vez fiz na vida”.
João Rico revelou que ganha tanto em 3 meses trabalhando em New Bedford como ganharia em 1 ano trabalhando em Portugal.
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Luís Marçalo, o engenheiro a bordo do Fisherman, da família de Hermínio Marçalo, veio para a América com a esposa e as filhas, também pelo dinheiro.
Ele era electricista na Marinha Mercante em Portugal, no início dos anos 90, muitas vezes longe da família por períodos até 5 meses de cada vez. Quando surgiu a oportunidade de ir para New Bedford, agarrou-a com as duas mãos.
As suas filhas, Ana e Carolina, no entanto, regressaram a Portugal para trabalhar e estudar. A esposa quer juntar-se a elas, mas o dinheiro aqui é demasiado bom para se deixar passar.
”Se pudesse, voltava para lá hoje”, disse luís, “Mas não é assim tão fácil. Para trabalhar quatro ou cinco meses num ano… prefiro estar aqui”
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Nos anos 70, a decisão de deixar Portugal para a América era fácil, disse o Sr. Cura, o país estava envolto em lutas políticas e uma economia pobre.
“Podíamos ter facilmente uma vida melhor aqui”, disse ele, “era mais fácil para nós chegarmos aqui e encontrarmos trabalho imediatamente”
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Hermínio Marçalo deixou Portugal após a Revolução de 25 de Abril de 1974, imaginando que uma vida melhor o esperava na América.
“Nessa altura as coisas não estavam bem em Portugal”, disse ele, “aqui, dei aos meus filhos um futuro melhor do que lhes conseguiria dar lá”.
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“Dado o fluxo de pescadores portugueses, para um emigrante, trabalhar em New Bedford é muito parecido com trabalhar em Portugal”, diz João Rico, “A adaptação aqui não foi nada difícil”
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“Quando aqui cheguei, gostei disto imediatamente”, diz Pedro Cura, ”Disse ao meu Pai – Eu quero ficar aqui”
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Uma cena familiar formou-se numa manhã de sol primaveril nas docas: Um pequeno grupo de pescadores reformados juntou-se num círculo para o seu habitual encontro matinal. Trocam informações e partilham pequenas conversas. Encontram-se quase todas as manhãs, desde que o tempo permita, tal como os seus conterrâneos em Portugal fazem, ano após ano.
Onde os pescadores reformados vivem, depende em parte, de que lado do Atlântico a sua família reside, diz Hermínio Marçalo, que divide o seu tempo entre a Cova gala e New Bedford.
Outras considerações são também tidas em conta, como diz ele: O custo de vida é mais baixo em Portugal.
Ele tem uma casa na Cova Gala, mas aqui é alugada e lá há mais tempo para apreciar a vida com os amigos.
Além disso obteve um bónus por se ter mudado para a Cova Gala. O seu problema no pé está curado graças a terapia local.
“O tratamento foi muito fácil. O meu médico disse-me – O teu tratamento é andar descalço na areia”

Comments on ""A Nossa Terra" - Portugueses na América"

 

<Blogger JAM said ... (7:03 da tarde) : 

Esta entrevista para mim resume-se a uma frase chave dita por Pedro Cura. “Quem for ambicioso em Portugal, tem de abandonar o país. Alguém que queira ter uma vida estável, que queira apenas ter uma vida calma, deve ficar em Portugal”. É preciso contudo lembrar que a América do Tio Sam já não é o que era também... As dificuldades profissionais também existem lá e no presente é preciso ter sorte. É claro que se nós tivessemos essas dificuldades...
O "American Dream" apelidado na altura da emigração para a América,(Europeia em especial) que começou no princípio do sec.XX, era o sonho com uma viagem até ao outro lado... muito bem encenado por exemplo no "Titanic". Hoje esse sonho já não é tão cor-de-rosa mas continua a ser um sonho para quem quer.

 

<Blogger Cristina said ... (12:29 da tarde) : 

Olá!
Tenho andado acompanhar as reportagens no Standard Times todos os domingos! Se eu fosse jornalista como tu, até publicava no meu blog ;p :)...

A nossa terra realmente é maior "aldeia" do mundo :)


beijinhu