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sábado, janeiro 27, 2007

Evolução dos tempos

Desde que os americanos se lembraram de começar a chamar "afro-americanos" aos pretos, com vista a acabar com as raças por via gramatical, isto tem sido um fartote pegado!
As criadas dos anos 70 passaram a "empregadas" e preparam-se agora para receber menção de "auxiliares de apoio doméstico".
De igual modo, extinguiram-se nas escolas os "contínuos", que passaram todos a "auxiliares da acção educativa".
Os vendedores de medicamentos, inchados de prosápia, tratam-se de "delegados de informação médica", e pelo mesmo processo transformaram-se os caixeiros-viajantes em "técnicos de vendas".
Os drogados transformaram-se em "toxicodependentes" (como se os consumos de cerveja e de cocaína se equivalessem!).
O aborto eufemizou-se em "interrupção voluntária da gravidez".
Os gangues étnicos são "grupos de jovens".
Dos operários fizeram-se de repente "colaboradores" e as fábricas, essas, vistas de dentro são "unidades produtivas" e vistas de fora são "centros de decisão nacionais".
O analfabetismo desapareceu da crosta portuguesa, cedendo o passo à "iliteracia" galopante.
Desapareceram dos comboios as classes 1.ª e 2.ª, para não ferir a susceptibilidade social das massas hierarquizadas, mas por necessidades de tesouraria continuam a cobrar-se preços distintos nas classes "Conforto" e "Turística".
A Ágata, rainha do pimba, cantava chorosa: «Sou mãe solteira...» ; agora, se quiser acompanhar os novos tempos, deve alterar a letra da melodia: «Tenho uma família monoparental...» - eis o novo verso da cançoneta, se quiser fazer jus à modernidade.
Aquietadas pela televisão, já se não vêem por aí aos pinotes crianças irrequietas e «terroristas»; diz-se modernamente que têm um "comportamento disfuncional hiperactivo". Do mesmo modo, e para felicidade dos "encarregados de educação", os brilhantes programas escolares extinguiram os alunos cábulas; tais estudantes serão, quando muito, "crianças de desenvolvimento instável".
Ainda há cegos, infelizmente, mas como se a palavra fosse considerada desagradável, quem não vê é considerado "invisual". Os surdos, esses, são "inauditivos".
Para compor o ramalhete, as gentes cultas da praça desbocam-se em "implementações", "posturas pró-activas", "políticas fracturantes" e outros barbarismos da linguagem.
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E assim linguajamos o novo Português.

Comments on "Evolução dos tempos"

 

<Blogger Marco MR said ... (6:48 da tarde) : 

Este texto esta lindo:)Abraco.Tá demais

 

<Anonymous Anónimo said ... (10:44 da tarde) : 

Sim senhor. Belo exemplo do que é Blogar.
Está agradável e é um bom tema.
Gostei.

 

<Blogger JAM said ... (11:51 da manhã) : 

E assim se fala em bom portugues. LOL